domingo, 9 de maio de 2010

A ladra e o Mago - cap.05

Nos dias que se seguiram o mago se isolou. Lithande, que vivera mais gerações que seus companheiros de viagem poderiam viver, não aceitava sentir seu coração perturbado por um menino, não vivera tanto para sentir-se como uma adolescente tola.  Essa perturbação se refletia no modo com que vinha tratando Elijah, ora seco e ríspido, ora com gestos carinhosos que eram retribuídos com olhares intensos e amorosos do jovem. Elisah por sua vez, já não lhe dirigia sequer uma palavra.

Lithande estava angustiada. Nunca um homem a perturbara assim e mesmo por mulheres há muito não se sentia atraída.

E se o iniciasse na magia? Poderia vincular o segredo  de Elijah ao seu... No que estava pensando? Lithande sentia-se febril.

Precisava se afastar.

Caminhava assim distraída quando ouviu o zunir de uma das flechas de Elisah, um grito e um grupo de saqueadores os atacou.

Um deles derrubou a ladra do cavalo, outro atacou Elijah e dois se lançaram sobre Lithande, enquanto o último contorcia-se agonizante com a flecha da ladra atravessada em seu peito.

Lithande conseguiu soltar um braço e poegar a adaga direita, ouvindo com um sorriso sarcástico o ladrão que atacara Elisah gritar, retirando a mão cortada por entre as saias da ladra. O mago, aproveitou-se do fato de um dos ladrões segurá-lo por trás, para num impulso, chutar o que lhe atacava pela frente e lançar-lhe a adaga junto com um encantamento, que fez com que a lâmina abrisse a garganta do ladrão. Num lance de olhar, pode ver que Elisah mesmo ferida, cravava uma flecha no ladrão que tentara estuprá-la e Elijah a defender-se com o cajado peregrino. Impulsionando o corpo para trás, fez com que o ladrão chocasse as costas numa árvore, soltando-o com o impacto e invocando os elementais do fogo, incendiou árvore e saqueador.

Um grito e o corpo de Elijah tomba no chão.

Desesperado Lithande arrancou a adaga da garganta do ladrão e partiu em fúria para matar pelas costas aquele que ferira Elijah.

Lithande jogou de lado o corpo do ladrão e tomou em seus braços o adolescente desfalecido. Lançou um olhar sobre Elisah que estirada no chão, sangrava e tossia, tentando se erguer. Ela era forte, poderia se cuidar sozinha.

O mago então levou Elijah para o rio, para lavar os ferimentos e tentar salvá-lo. Pôs-se a abrir o gibão do garoto, precisava despi-lo.

- Não vais morrer, não podes morrer!

Elijah abriu docemente os olhos

- Lithande meu amor... Lamento ter que partir, lamento deixá-...- a voz já lhe faltava - Fui muito feliz por esses dias, porque amei você...

Os olhos se fecharam e a cabeça de Elijah pendeu de lado, os lábios entreabertos, a respiração quase imperceptível.

Uma lágrima rolou pelo rosto de Lithande, a estrela azul doía sofrivelmente. Ela beijou os lábios ainda mornos do jovem com todo o sentimento que a sacudia e com o punhal, rasgou as vestes de Elijah, na esperança de salvá-lo, quando, ao rasgar tensa faixa ao redor do tórax, do garoto um olhar de surpresa e um doloroso soluço sacudiu o peito do mago.

Elijah era uma menina, a faixa apertada ocultava-lhe os seios num corpo que desabrochava exuberante sob as vestes masculinas. Num último esforço, tentou transferir um pouco de sua energia vital para ela, mas era tarde e a menina morreu suavemente. Lithande a abraçou, sujando-se em seu sangue, beijando seus cabelos vermelhos.