domingo, 24 de janeiro de 2010

Elisah a Ladra - A moça e ladra (Cap. 03)

As coisas começaram a ficar difíceis quando completei treze anos. Despertei com as saias sujas de sangue e comecei a chorar assustada com aquilo, achando que fosse morrer. Logo chamaram minha mãe e ela pacientemente me explicou que agora, eu já era uma mulher.


Chorei mais ainda.


Logo vieram os preparativos para o solstício de verão e eu fazia parte desses preparativos. Como já tivesse sangrado, já estava pronta para os filhos que glorificam A Deusa Nirath. Fui tatuada com um quarto crescente na nuca, lavada e perfumada e vestida com uma túnica de linho fino, que quase nada cobria. Haveriam festejos na cidade e juntamente com outras virgens eu seria entregue aos vencedores dos torneios...


Obviamente eu não estava nada feliz com essa pespectiva; é claro que eu queria dar filhos à Deusa, mas do homem que eu escolhesse, da forma que eu achasse melhor.


- Mãe, por que eu tenho que ir?


- Porque você já é uma mulher e precisa servir a Nirath. Filha, quem sabe o homem que a tomará não se agrade de ti e a queira como esposa?


- E me prostituir pelo resto da vida com um único homem a quem não sei se amarei? Isto é tão vil quanto a vida que levas!


- Vil é roubar! Pensas que não sei, pequena ladra? Eu ao menos vivo do que é meu.


- És mil vezes mais ladra que eu, minha mãe! Eu roubo pequenas coisas, fáceis de serem reconquistadas, dinheiro, anéis, tecidos, tudo isso eles podem conseguir. Tu minha mãe, não rouba apenas o carinho e as moedas que talvez façam falta aos filhos desses homens. Tu roubas o que é das esposas deles, mais do que isso, rouba delas o viço e a alegria, porque ao verem o leito vazio, sabendo onde estão seus maridos, elas se entristecem, se tornam feias e velhas. Tu és mais ladra do que eu! E eu não quero um homem que não conheço rebolando entre meus quadris, invadindo meu templo por dinheiro ou por obrigação!


Levei um sonoro tapa de minha mãe e fui levada ao local dos festejos.


Furiosa, aguardava no interior de uma tenda de campanha por minha triste sorte, quando ouvi a doce voz de Wendel a me chamar:


- Elisah! Elisah querida, venha rápido.


Me ergui do leito e fui até o canto da tenda de onde vinha a voz abençoada de meu amigo, que, arrancando uma das estacas, ergueu a lona e me puxou para fora.


- Sei que não queres que seja dessa forma, menina Elisah. Queres fugir?


- Mais que tudo no mundo, Bardo.


Ele puxou uma pequena mochila, o arco e a aljava de flechas.


- Aí estão uma muda de roupas, seu pequeno tesouro, algumas frutas secas e um punhal. Corra até o nosso local e me espere lá. Não irei agora para que não desconfiem de mim. Agora vá.


Corri como nunca, não para o local combinado, mas para a estrebaria onde costumava pegar o cavalo para cavalgar. A casa estava deserta, todos estavam no festival, e tanto os cavalos quantos os cães da casa me conheciam, não tive problemas em roubar o cavalo uma última vez.


Horas depois, Wendel, me encontrou no alto de uma árvore.


- E então? - perguntei


Ele riu gostosamente


- Estão furiosos, sabes que sois bela e com o tempo serás linda. Mas o vinho e as outras virgens os distraíram e pude vir em segurança. Mas temos que partir e tu não podes seguir assim pintada para os festejos. Iremos ao rio para que você se lave.


- Para onde iremos?


- Para a casa de uma amiga.


E assim foi feito. Passei cinco anos com Svirna, uma elfa linda e delicada, que me ensinou a viver na floresta e me deu as lâminas envenenadas que mantenho amarradas às coxas. Uma me proteje da outra e ambas me protegem daqueles que tiveram a infeliz idéia de me violentar.


Não sei quem deitou as sementes no ventre de minha mãe para que eu nascesse; mas sei que meu pai, foi Wendel. Com o tempo,suas visitas foram escasseando, até que um dia ele não veio mais... E esse foi o sinal de que nada mais havia para fazer na floresta de Svirna.


Iniciei meu caminho só, mercenária errante, aos dezoito anos, sem medo de lançar uma flecha ou sacar meu punhal, a vida dos homens que me enfrentam nada vale.


Hoje tenho vinte e um solstícios e acabei de deixar o grupo de mercenários com o qual prestei serviços a um rei. Durante dois meses eles foram meus irmãos, lutamos uns pelos outros e contra o adversário comum. Fomos bem pagos e cada um tomou seu caminho.


Lembrar de tudo isso, me faz pensar que uma caneca de hidromel cairia bem agora... Tenho muito ainda por viver e isso me dá sede.



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