Na minha infância havia as noites no porão. Junto ao frio, vinham os gritos, risos e gemidos de homens e mulheres sobre minha cabeça.Vinham também os sons da violência e o choro das mulheres, totalmente entregues à fragilidade de seu sexo.
Eu e outras crianças dormíamos no porão do prostíbulo onde minha mãe e outras tantas mulheres ganhavam o pão e se destruíam. Quando abriam o portal, já era dia e nossa tarefa era ajudar duas velhas a limpar tudo, enquanto as meretrizes dormiam. Mamãe, num sacrifício extremo, sempre vinha me dar um beijo de bom dia. Depois de tudo limpo, saíamos para brincar, até o cair do primeiro sol, quando éramos banhados e trancados no porão após o jantar.
Costumavam dizer que eu nascera usando saias por engano; vivia em cima das árvores, ou montada a cavalo, sem que o dono soubesse onde seu animal haveria de estar. Mas eu sempre devolvia o cavalo, onde esconderia um bicho daquele tamanho?
Mas havia algo de diferente em minha vida.
Havia um bardo.
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