segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Ladra e o Mago - Cap.01

Lythande ergueu o olhar para a entrada da taverna; Havia caminhado dois dias e duas noites até chegar a Gandrin. Não tinha planos de retornar tão cedo à grande cidade, mas não teve muita escolha...um rei lhe exigia um sortilégio e para este, precisava de algo um tanto difícil de obter; uma unha do Gárgula de Shariman, e soube entre os demais peregrinos, que havia alguém que possuía tal unha.


E ali estava ele diante da taverna de Vissek em busca de uma maldita ladra errante.


O mago teve sorte naquele início de noite. Por entre a fumaça dos rolos de ervas e dos assados, pode visualisar uma mulher exuberante, sentada sobre uma mesa, cercada de homens que bebiam não só de suas canecas, mas também das histórias contadas pela jovem de longos cabelos negros e olhos cor de mel, tão cheios de promessas falsas...


Lythande retirou o capuz e se aproximou da mesa e viu a mulher erguer os olhos por sobre a caneca de hidromel e fitá-lo curiosa.


Era verdadeiramente uma mulher bonita. Mais baixa que o mago, com a pele dourada de sol, tinha longos cabelos negros, que caíam sobre os seios que saltavam para fora do corset verde musgo, cobertos por uma camisa branca que desnudava os ombros... o corset marcava uma cintura fina e revelava os quadris largos, enfim, um corpo de mulher que justificava todos aqueles homens ao seu redor


-Ora se não vejo adentrar um alaúde! Teremos música, ao invés da minha voz!


Os homens ao redor da jovem riram divertidos. Elisah ergueu-se da mesa e rodeou o mago e parando diante desse fitou longamente a estrela azul em sua testa, tão semelhante à lua que carregava em sua própria nuca.


- Bebes comigo Mago?


- Obrigada, mas não vim em busca de vinho...


- Tudo bem, eu também não. Vissek traga hidromel para o Bardo que acaba de chegar!


Elisah apontou para o alaúde com um leve erguer do queixo.


- Toque, distraia minha pobre cabeça, já cansada de entreter esses senhores com minhas ladainhas...


Lythande trouxe o alaúde até o peito e começou a tocar suas cordas; um cheiro de canela que exalava do instrumento fez com que fechasse os olhos e buscasse inspiração e paciência para com a ladra de olhar zombeteiro.


Um leve dedilhar e Lythande sentou-se diante dos pés da ladra, que novamente se sentara sobre o tampo da mesa e pôs-se a cantar:


-"Eis que se ao acaso sorrires
  Torna-te senhora por hoje, do meu carinho
  Dorme comigo ao menos esta madrugada
  Para que mesmo se partires
  Meu viver não seja tão sozinho
  Nem tão triste tua caminhada..."


O mago olhou para a ladra, por trás de uma mecha de cabelos grisalhos e entoou outras baladas cheias de lirismo e sensualidade. Os homens vendo-se preteridos diante das sedutoras canções de Lythande, um a um deixaram a mesa, até que apenas o mago e a ladra ali permaneceram.


- Pronto menestrel, já não precisas mais flertar comigo, todos foram dormir.


Lythande pousou o alaúde no chão, ao seu lado.


- És Elisah, certo?


- Tão certo quanto os dois sóis que brilharão dentro de horas. E tu, sedutor mago da estrela azul, qual o teu nome e o que desejas de mim?


- Não se revela gratuitamente o nome de um mago - Lhitande observou com um sorriso, que a ladra tirou das dobras da saia, algumas moedas e pequenos objetos, e praguejou sobre a pobreza daqueles homens - Meu nome é Lythande e preciso de um favor seu.


Elisah tirou da bota de montaria, um saquinho de veludo, onde guardou tudo.


- Sabe que necessariamente não preciso fazer isso, mas é difícil desfazer-se de velhos hábitos...Bom, mas em quê essa ladra pode auxiliar-te, mago Lythande?


- Preciso de uma unha do Gárgula de Shariman e sei que você a tem.


Elisah, sorveu o hidromel de sua caneca e num gesto rápido e suave, trocou-a pela caneca cheia de Lythande.


- E o preço, pelo jeito, é à minha escolha.


- Desde que seja justo.


Elisah limpou um filete de hidromel que escorria pelo seu queixo com as costas da mão e estalou a língua diante do prazer de saborear sua bebida em paz.


-É simples, mago da estrela azul. É tempo de colheita, e as florestas estão cheias de saqueadores e outros bandidos vis. Sozinha, eu atravessaria tranquila em poucos dias; tenho um bom cavalo e não seria a primeira vez; mas trago comigo um... um garoto e não gostaria de vê-lo em dificuldades, uma vez que terá que viajar à pé. Vens conosco pela unha que desejas?


- Por que não o leva no cavalo?


- Porque nossas mochilas não sabem voar e não quero matar meu cavalo.


Lythande se aborreceu, mulher egoísta, mais preocupada com um cavalo do que com o tal garoto. Aquela viagem o atrasaria em alguns dias, pensou em negociar, mas o olhar perturbador e ao mesmo tempo calmo da ladra, davam a entender que ela não recuaria em seu pedido e depois, acompanhá-la seria mais fácil do que encontrar e destruir outro gárgula dragão. Sentindo o cheiro suave do suor de Elisah, mesclado com especiarias, Lythande desviou o olhar resignado.


- Está bem Elisah.


Ela sorriu e espreguiçou encantadoramente.


- Bem, então eu me retiro, preciso dormir. Tens onde passar a noite, menestrel? Posso lhe pagar um quarto aqui.


Lythande tentou recusar, mas antes viu a jovem gesticular para o taverneiro.


- Vissek, prepare o quarto ao lado do meu, para que o mago possa descansar. Boa noite menestrel, que a Deusa lhe dê bons sonhos.

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